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Berlim, Sexta-feira, 20 de Julho às 22:05h

Writer's picture: Vânia Penha-LopesVânia Penha-Lopes

O dia de hoje começou com o café-da-manhã que comemos aqui mesmo no hotel. A seleção era variadíssima e, com exceção do suco de laranja, que era de pacote, muito fresco. Comi salada de fruta, um pão integral delicioso em que coloquei tomate ralado, cebolinha, champignon, cebola, pimentão vermelho, presunto e mostarda. Aí, a garçonete trouxe salmão defumado. Hello! Claro que fiz uma boquinha disso também. E tinha chá "Earl Grey", meu favorito, que não tomava desde maio. Não era da marca Twinings, mas deu bem pro gasto. Ah, tinha também uma água mineral com gás que era bem gostosa. Aliás, tanto na Áustria quanto na Alemanha a água corresponde às expectativas de uma amante do líquido como eu.


Andamos até a Rua Niederkirchnerstrasse para irmos à "Topografia do Terror: 1933-1945", uma exposição gratuita detalhando a queda da República de Weimar, a subida ao poder dos nazistas e o genocídio que lhes foi peculiar. Detalhe: a exposição acontece no antigo quartel-general da Gestapo, um antro de tortura. O prédio foi bombardeado, mas construíram um museu em seu lugar e um corredor de 200m (perguntei a extensão) com a exposição, repleta de fotos e textos em alemão e inglês.


Quando eu era pequena, vi várias matérias sobre os campos de concentração e as fotos com quantidades de corpos emaciados e desnudados que eram publicados nas revistas "Manchete" e "O Cruzeiro". Aquilo sempre me chocou. Mas uma coisa é ver aquilo na revista, outra é ver aquilo no próprio local onde as decisões foram tomadas para que aquilo acontecesse. A exposição é longa, tortuosa e honesta, e abrange as políticas de exclusão direcionadas aos judeus (o alvo principal dos nazistas), mas também aos ciganos, aos homossexuais, aos comunistas, aos considerados fisicamente incapazes e aos "associais". Aprendi muito, por exemplo, sobre como aos ciganos foi oferecida a opção de serem castrados para não serem expulsos ou exterminados, mas acabaram sendo castrados e exterminados assim mesmo; segundo a exposição, quase todos foram assassinados. Comprei o livro sobre a exposição, que reproduz todas as fotografias e os textos que a compõem.


Dentro do museu, há uma exposição sobre a SA, SS e SD (as polícias do Reich) e o avanço da "solução final" em todos os países que os nazistas invadiram ou que simpatizaram com eles. Mapas dos diversos campos de concentração, de trabalhos forçados e de exterminação numa área que cobria da França à Suécia, da Alemanha à União Soviética nos davam a extensão do terror. Fotografias de humilhação e extermínio em todos esses países e o texto, que cataloga a progressão do horror, me fizeram fisicamente mal, e eu chorei. Foi perturbador, mas isso faz parte de visitar Berlim; isso aqui não é Paris. Deixei o meu relato no livro de presença parabenizando a honestidade e a habilidade da Alemanha de se auto-criticar a tal ponto.


Prosseguimos para o número 7 da mesma rua, para vermos a exposição das fotografias da Diane Arbus (1923-1971). Anos atrás, a revista "Vanity Fair" dedicou um artigo a

uma coletânea semelhante em NYC, que eu acabei perdendo. A exposição é bem abrangente, ocupando um andar inteiro do museu, e o interessante é que ela nos força a revê-la quando vamos embora, pois temos de fazer o caminho contrário ao entrar. Foi também um contraste com a exposição anterior, pois, enquanto os nazistas mataram os "diferentes" por considerá-los inferiores aos "arianos", a Diane Arbus os retratou sem nenhum julgamento de valor.


Essa segunda exposição também levou bastante tempo. Recuperamo-nos no bistrô do museu com expressos, sanduíches, água mineral e, no meu caso, também panna cota e ouzo. Aí continuamos em direção à praça onde há um shopping center.


Perto de 20h, deu fome de novo. Resolvemos experimentar o restaurante italiano ao lado do nosso hotel. Comi uma salada de lula grelhada com dois tipos de tomates, ambos deliciosos, muita alface e um molho divino. Os garçons queriam porque queriam que eu comesse zabaglione de sobremesa, mas eu não estava a fim de mais doce; dou graças ao meu rápido metabolismo, mas não é bom abusar. Os garçons riam tanto quando falavam com a gente que eu perguntei ao que ria ainda mais se ele era rico. Ele disse que era feliz naturalmente, pois os filhos eram saudáveis, ele era saudável, a família estava bem, ele tinha emprego e não precisava de mais nada--e riu. Eles falavam italiano com a gente, mas um era esloveno e o outro (o risadinha), libanês. Se eu algum dia escrever um livro de viagem, como o Marcelo Alves, a Neusa Gudin e a minha irmã, Dilma Penha Lopes, sugeriram, acho que deveria dedicar um capítulo aos garçons, tamanho é o número de histórias envolvendo-os que já acumulei.


Meus companheiros de viagem já se recolheram e pretendo fazer o mesmo assim que acabar de lhes relatar meu dia.


Quase esqueci de dizer que hoje vesti minha camiseta do BFR com o nome, o número e a assinatura do Nilton Santos, e uma bermuda, pois não aguento mais usar calça jeans!

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