Dia 18/04/2010, como foi, para uma botafoguense doente, acompanhar de Nova Jérsei, EUA, a conquista do título Carioca.
Domingo é dia de futebol e o domingo de 18/04 foi dia de decisão de campeonato no Rio. Só que eu, moradora de Nova Jérsei, EUA, não tive o privilégio ou o prazer de participar de nada de corpo presente. Porém, como sou Botafogo onde quer que eu esteja, fiz a minha parte do meu cantinho cá ao norte do Equador.
O filme Botafogo na Final do Carioca eu já tinha visto várias vezes nos últimos anos, sempre com um final detestável: o vilão Flamengo, acobertado por bandeirinhas equivocadas e juízes primos do secretário de segurança, ganhava do mocinho Botafogo que, ao reclamar, era acusado pelos seus algozes de “chororô”. Pelo menos uma vantagem de se morar fora é nessas ocasiões ficar longe da chacota dos vilões
Teria o filme este ano um final feliz? Todo botafoguense que se preza é supersticioso, ansioso e cauteloso, mas, no fundo, também esperançoso; eu sou tudo isso ao extremo.
Portanto, durante toda a semana desde que nós dispensamos o Fluminense, só usei as cores preto, branco e cinza. Nada de rosa—rosa é branco com vermelho—e vermelho, nem pensar. Meus acessórios eram brincos e anéis de prata com motivos de estrela, já que eu deixei em casa no Rio os brinquinhos com o escudo que a Mamãe, que me passou sua paixão pelo Alvinegro quando eu ainda habitava o ventre dela, me deu em comemoração ao campeonato de 1997. Fiz minha parte também ao mandar um recado pros meus amigos botafoguenses, lembrando a todos, “Estamos na Final! Vamos torcer! Vamos ter fé! Vamos rezar!”
Lembram do Pacheco, Camisa 12?
Jogo do Botafogo me deixa tão louca quanto ele. Para evitar a gritaria que já me causou um calo nas cordas vocais (e também pra tentar mudar o filme, pois no ano passado ouvi o jogo inteiro), deixei o computador ligado no “Tempo Real” e fui lavar roupa, tendo já praticamente esgotado o meu vestiário alvinegro, inclusive as minhas camisas do time. Porém, a minha curiosidade me fez conferir o placar várias vezes (não! Empate no finzinho do primeiro tempo é dose. Adianta esse filme!). Quando suspeitei que o jogo estava próximo ao fim e constatei que o placar estava 2 x 1 a nosso favor, fui correndo buscar minhas roupas. Cantei o hino olhando pro escudo de uma das minhas camisas e rezei, o coração a dar saltitos.
Voltei correndo pra casa. O “Tempo Real”, encerrado, parabenizava o Glorioso. As lágrimas desceram instantaneamente. A secretária eletrônica acusava recado novo; algo me dizia que era a Mamãe. Ela gritava, feliz, que éramos campeões. Liguei pra casa e finalmente gritei, berrei, ri e chorei. Papai falou que tinha sido um jogão de bola. Mais tarde, minha irmã, que é vascaína, me disse que, no domingo, “o Botafogo jogou com o coração”. Liguei pra uma amiga no Rio, que disse que o namorado flamenguista não estava atendendo aos seus telefonemas. E nós duas rimos e gritamos o nome do Fogão.
Passei o resto da noite ligada à Super Rádio Tupi—que por sinal comemorava 75 anos de existência e deu um troféu ao campeão—ouvindo a retrospectiva da campanha do Fogão e a festa em General Severiano. Assisti aos melhores momentos no site da Globo, esperando até que ela liberasse o jogo na íntegra, e ouvi o nosso hino n vezes. E, como não poderia deixar de ser, mandei um e-mail debochado para um certo flamenguista que, nos últimos anos, fez questão de me sacanear à distância com cada campeonato ganho pelo time dele.
Botafogo 2 x 1 Flamengo, gols de Herrera e Loco Abreu, ambos de pênalti, contra unzinho do Vagner Love. O “Imperador” Adriano, como todos já sabemos, perdeu um pênalti—ou será mais justo dizer que o Goleiraço Jefferson defendeu-o tão bem? De qualquer forma, o “Ataque Mercosul” sobrepujou o “Império do Amor”. “Chega de ser vice!”, como havia profetizado o capitão Leandro Guerreiro.
Finalmente assisti à final na íntegra. Papai tinha razão: foi realmente um jogão de bola. E minha irmã também estava certa: jogamos com o coração. Deve ter sido lindo ver tudo lá no Maracanã. Ninguém calou o amor daquela torcida.
Mudou o filme? Mudou sim, com um final feliz. Estou flutuando com o bi-campeonato da Taça Guanabara, a Taça Rio e em sermos campeões antecipados. A gente sabe que, no fundo, na rivalidade do Rio, o que vale mesmo é o Campeonato Carioca. E aqui em Nova Jérsei eu venho trabalhar vestida com as minhas camisas, pois, embora ninguém entenda nada, sou Botafogo em qualquer lugar do mundo.
Pra comemorar ainda mais os nossos títulos, apresento abaixo um poema que escrevi pro meu time há tantos anos, o que demonstra que a minha paixão não é de hoje:
Amo-te tanto, tanto,
que para mim é um encanto
ouvir teu nome adorado e famoso
ó grande clube glorioso!
Botafogo, dá um calor
à tua torcida fervorosa
vem com todo o teu louvor
p’ra essa temporada esplendorosa!
Vânia Penha Lopes, Rio de Janeiro, 1977
Brilha, Estrela Solitária!
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