Ser feminista significa, a princípio, estar cônscia(o) do verdadeiro papel da mulher na sociedade. Digo “a princípio” porque sei que isto não é tão fácil de se entender e admitir, uma vez que a maneira como as mulheres vêm sendo tratadas desde os tempos mais remotos em nada tem relação com algo justo e correto.
Exceto as organizações matriarcais, todas as outras acostumaram-se a visualizar a mulher como um ser inferior, de um ponto de vista bastante paradoxal, já que este mesmo ser é elevado à categoria de santa quando exerce seu papel de fêmea (procriação); neste caso, a “feminilidade” encontra sua exacerbação. Numa concepção maniqueísta tão própria a essas sociedades, a feminilidade é uma série de conceitos que definem “a mulher” e, é claro, opõem-se radicalmente a seu correspondente masculino. Neste caso, ligam-se à figura da mulher certos atributos socialmente dados mas que, estando há tanto tempo em vigor, são aceitos como naturais: seriam estes a capacidade de renúncia e resignação, a doçura, a fragilidade, e isto evolui para o serviço caseiro (que é “trabalho de mulher”), a dependência a um homem etc. Há uma palavra muito empregada para qualificar a atitude da mulher numa relação sexual, mas que resume toda uma situação: PASSIVIDADE. A mulher recebe as ordens do pai, espera ser deflorada, é “comida”, ou seja, nunca se vê numa posição de agente. E, como todos costumam dizer, principalmente a mãe que vê com temor sua filha ir se liberando (a mãe não vê isto como um processo global, mas como mudanças abruptas e loucas), “este tem sido o papel da mulher desde antes da minha bisavó”. E isto é um modo muito democrático de se resolver a questão, não acham?
Toda a sociedade precisa reaprender a existir. Nisto incluo o homem, é claro. O homem tem que acompanhar de perto as vitórias, não para “ajudar as mulheres”, mas para não dançar. Sim, porque a nova mulher está em busca do novo homem, que possa ser, junto com ela, uma mistura de tudo de bom que foi atribuído a homem e mulher: doçura sim, força sim, vontade de vencer sim, sensibilidade sim, mas para os dois. Em partes iguais.
Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1981.
Foto de Sandra Tosta Faillace.
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