Esta crônica é de 24 de dezembro de 2016.
Desde que o Papai morreu, três anos atrás, dói-me montar a árvore de Natal porque era uma atividade que fazíamos juntos. Talvez por isso, talvez pelo meu cansaço físico, talvez devido ao calor que está fazendo, evitei fazê-lo até ontem à noite. E aí, quando fui ligar o pisca-pisca, a tomada se desintegrou.
Hoje de manhã, depois da academia, li no jornal que o restaurante popular havia servido uma ceia grátis pros usuais fregueses. Segundo a matéria, a ceia estava deliciosa e os convivas ficaram muito felizes. Tinha fotos do evento, numa das quais aparecia uma mulher jovem com o filhinho à mesa.
De tarde, fui à Loja Americana procurar um pisca-pisca pra comprar. Não achei, mas dei de cara com a mãe e o filho da foto. Disse pra ela: "Ih, eu vi vocês no jornal de hoje!" Ela afirmou que eram eles mesmo. Continuei: "A comida estava boa? O jornal disse que vocês acharam uma delícia". Ela respondeu: "'tava; de graça, né?" Aí, não resisti e completei, "A injeção na testa 'tava gostosa?" Ela riu e saiu atrás do gurizinho, que não parava quieto. "Mateus, cadê você? Mateus, larga esse brinquedo!"
Não vai ter pisca-pisca. Vai ter um anjo tocando uma trombeta, que não pisca, mas brilha quando se liga na tomada.
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