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  • Writer's pictureVânia Penha-Lopes

A NAACP, ONTEM E HOJE

Nos primórdios do século passado, mais precisamente em 12 de fevereiro de 1909, nascia a Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (National Association for the Advancement of Colored People) com o intuito de combater a discriminação racial legal que vigorava nos EUA, a qual não só dificultava a entrada de negros no mercado de trabalho como fomentava linchamentos e destruições de bairros negros numa tentativa de impedir o florescimento de uma melhor qualidade de vida àquela população. A data foi escolhida por ser o centenário do aniversário de nascimento de Abraão Lincoln (1809-1865), o presidente que declarou o fim da escravidão naquele país. Entre seus nove fundadores encontravam-se figuras ilustres como W. E. B. Du Bois, o primeiro negro a receber um doutorado em sociologia da Universidade Harvard; Ida B. Wells-Barnett, a jornalista que pôs a própria vida em risco ao documentar os freqüentes linchamentos de homens, mulheres e crianças no sul; Archibald Grimke, que superou um passado de escravidão para se tornar um dos primeiros negros a se formarem na Faculdade de Direito de Harvard, orador, diplomata e sufragista; Henry Moskowitz, ativista pelos direitos civis, o que marca um histórico de colaboração entre negros e judeus nos EUA; jornalistas como Mary White Ovington, Oswald Garrison Villard e Charles Edward Russell; e os reformistas políticos William English Walling e Florence Kelley.


No dia 17 de julho deste ano de 2022, a Associação se reuniu pela 113ª vez, em Atlantic City, no litoral do estado de Nova Jérsei. A principal pauta da convenção foi a importância de se cultivar a prática do empreendimento financeiro entre os afro-americanos, cujos antepassados trabalharam durante séculos na lavoura, nas minas, nas ferrovias – enfim, na construção do país – sem nada ou pouco receberem em troca, assim criando uma profunda defasagem econômica que é sentida até os dias de hoje.

O jornalista Steven Rodas, do //NJ.com/The Star Ledger, me entrevistou sobre os obstáculos que os negros confrontam na luta para adquirir riqueza. Dissertei sobre “a fuga branca” (“White flight”) de uma área residencial como um desses obstáculos: “As pesquisas demonstram que quando os brancos abandonam um bairro ou quando sua proporção naquele bairro diminui demais, o comércio e demais negócios desaparecem. A discriminação espacial existe: as empresas observam as áreas predominantemente não-brancas, a não ser que sejam asiático-americanas, e concluem, ‘Não vamos lucrar muito. Portanto, não vamos investir lá’”. Acrescento que “…talento precisa ser reconhecido e cultivado. A sociedade acaba por perder muito porque nas comunidades de baixa renda e de grupos étnico-raciais que sofrem discriminação, há muitas crianças talentosas que nunca são reconhecidas. Elas nunca têm a chance de desenvolver seus talentos em algo que beneficiará todos nós”.


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