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Writer's pictureVânia Penha-Lopes

BOTAFOGO NA FINAL: A SAGA




Boa tarde pra quem já está classificado pra final do Campeonato Carioca! Como prometi, relato agora a saga que foi assistir ao segundo jogo das semifinais ontem.


A emoção já começou quando fui a General Severiano comprar os ingressos na sexta-feira, véspera do jogo. Um pouco antes de chegar minha vez de ser atendida, foi anunciado que os ingressos mais baratos (R$60,00) já estavam esgotados. Um menino atrás de mim na fila prontamente foi embora. Cheguei ao guichê e perguntei quanto custava o próximo ingresso mais barato: R$100,00. Aí foi a minha vez de sair da fila, sem comprar nada. Liguei pra Sandra, que foi a todos os jogos comigo, mas não consegui falar com ela. Então, perguntei ao rapaz que administrava a fila se eu tinha chance de pagar meia entrada no jogo de sábado se eu me tornasse sócia-torcedora. Ele duvidava, mas não custava tentar; sou brasileira e não desisto facilmente! A pior coisa que poderia acontecer era eu ouvir um “não”, o que não me amedronta.


Dirigi-me então à Loja Oficial do Botafogo. No caminho, avistei um anjo alvinegro com espírito de Carlito Rocha e lhe expus minha situação: havia ido a todos os clássicos do Fogão e mais ao jogo com o Nova Iguaçu, mas R$100 era demais. E não é que o anjo me concedeu dois ingressos – um pra mim e outro pra minha fiel escudeira? Super agradecida, saí dali saltitante e comprei uma faixa de Campeão da Taça GB de um velhinho magrinho e fofo na porta do clube; era o mínimo que eu podia fazer.


Ter conseguido os ingressos foi um feito inédito. Quando contei pra Dilma, ela disse que o Universo estava conspirando a meu favor. Quando contei à Natália no dia seguinte de manhã, ela vaticinou que era um sinal de que eu tinha que ir ao jogo e ver o Fogão passar às finais. Quanto à minha dúvida sobre qual camisa vestir, a Natália determinou que deveria ser aquela que eu vesti no último jogo que o Botafogo venceu. “Ah, então é a minha regata!”


À tarde, pronta pro jogo, fui me encontrar com a Sandra. A gente está tão acostumada a ir pro Maraca todo fim de semana que, automaticamente, saltamos no Estácio. Estávamos prestes a entrar no metrô pra Estação Maracanã quando atinei: “Sandra, o jogo é no Nilton Santos! A gente tem que ir pra Central!!”


Caraca, tome de correr e fazer o caminho de volta, correr pra comprar os bilhetes pro trem, correr pra pegar o trem que partia em quatro minutos. Essa parte deu certo, mas aí, cadê que o trem saía? Deve ser pra lá de frustrante depender dos trens da Central todos os dias. Deu 15 minutos e nada e, pra piorar, faltou luz! Sugeri que saíssemos e pegássemos um ônibus ou um táxi, pois nenhum funcionário sabia precisar quando o trem ia sair e o jogo estava prestes a começar. Fora da Central, ninguém sabia o número do ônibus que ia pro Engenho de Dentro.


Nisso, avistamos três jovens amigos (um botafoguense e dois tricolores) que tinham feito a mesma besteira que nós. Eles também queriam pegar um táxi. Foi difícil chegar um e a gente sabia que táxi não leva cinco passageiros. Eu e Sandra chamamos o táxi e entramos: “Moço, leva a gente pro Engenhão, pelo amor de Deus!” Os garotos vieram atrás e entraram no táxi também. “Mas cinco?! Eu posso ser multado!” Mas o motorista boa praça levou a gente.


O botafoguense pediu ao motorista pra sintonizar o rádio no jogo. Foi só ele achar uma estação que ouvimos o grito de gol. Suspense. “Gooooool do Botafogo!” Nós três botafoguenses gritamos em uníssono, o que nada agradou aos tricolores. Porém, o motorista os consolou: “Ih, nós vamos virar isso. É só o Botafogo”. O motorista também era tricolor! A gente ainda ouviu mais um gol, que também foi do Botafogo. Segundo a Sandra, um dos garotos tricolores estava possesso. O motorista falou pro tricolor no banco da frente: “Ó, quando a gente fizer gol, não vai gritar na minha cabeça não, ein? Não vai pegar no volante, ein?” Já eu comentei com a Sandra: “Já perdemos dois gols. Quero ver o Botafogo fazer mais. Detalhe: o Botafogo precisava ganhar de uma diferença de dois gols.


O motorista nos avisou que nos deixaria do outro lado do estádio, pra evitarmos engarrafamento. Subimos correndo a passarela, passamos por cima da linha do trem e corremos até o setor oeste superior. Chegamos lá no fim do primeiro tempo, a ponto de ver o pênalti que o Renan, goleiro do Botafogo, fez no jogador do Flu. De nada adiantou a torcida alvinegra gritar “Erra! Erra!”. Droga! Lá se foi a nossa vantagem.


Munido de um resultado que o levava às finais, o Flu cresceu em campo e voltou com mais gás ainda no segundo tempo; botaram mais de uma bola na trave, inclusive. O Botafogo perdeu chances e alguns jogadores se arrastavam ou mancavam em campo. Fui ficando tão nervosa que baixei a cabeça e decretei que não aguentava mais assistir ao jogo; eu só rezava. A Sandra ia narrando o jogo, mas eu não queria saber, a não ser que fosse algo de bom pra nós. Eu perguntava pra ela: “Você confia?” E ela afirmava: “Eu confio”.


E assim o jogo chegou ao fim. Botafogo 2 x 1 Flu. Vamos aos pênaltis.


Pênalti, eu me recuso a assistir. Não sou hipertensa, mas não tenho coração pra tanto. Avisei pra Sandra que ia pra fora. Pedi a ela pra cuidar da minha bandeira (que eu deixo aberta na nossa frente) e falei que voltaria quando a disputa acabasse.


Como eu, havia um time de medrosos do lado de fora: andando pra lá e pra cá, uns com as mãos em prece, outros quase chorando. Teve um que se ajoelhou no concreto e cobriu a cabeça com os braços. Outros, mais corajosos, entravam no estádio quando ouviam o grito da nossa torcida, mais numerosa. Uma mocinha veio falar comigo quase aos prantos. Um papai olhou pra minha cara e eu falei, “Pênalti, eu não aguento”. Ele repetiu que ele também não, mas o filho estava dentro assistindo, então ele tinha que voltar pra lá. Uma mãe andava pra lá e pra cá com uma criancinha no colo – ela, andando de olhos fechados, provavelmente fazendo alguma promessa. Uma outra mãe sentou o filhinho numa bancada e ficou brincando com ele. A gente se entreolhou e ela disse: “Vão zoar a gente até a semana que vem”. E que droga de disputa era aquela que não acabava?


Com um copo d’água na mão, andei de uma ponta a outra, desci parte da rampa, subi de novo, sempre rezando sem parar. A um certo momento, por pura falta de opções, olhei pra baixo, mas resolvi que abaixo era a derrota. Então, olhei pra cima e pedi às duas estrelas no céu que olhassem pela sua colega, nosso símbolo maior. Também me aproximei da mãe com o garotinho, tão lindinho com uma camisetinha preta e cinza, e perguntei a ele: “A gente vai ganhar?” Ele respondeu, sorridente e cheio de convicção: “Vai!” Aí eu gritei: “Êee!” A mãe dele falou pra ele bater com a mão dele “na mão da moça”, tipo “high five”. Ah, o otimismo das crianças... E a disputa não terminava e eu nem sabia o placar.


Até que um senhor veio buscar a menina chorosa, dizendo: “Entra aqui, vem ver o nosso time ir pra final”. E logo em seguida, ouvi um grito forte, um grito de torcida, um grito que era nosso, e gente saindo correndo e gritando. Perguntei gritando: “Acabou? Nós ganhamos?” Gente, eu saí correndo e gritando tresloucadamente em direção às cadeiras. Com o copo d’água ainda na mão, fui de encontro a um rapaz que vinha na direção oposta e derramei água nele. Ele também estava ensandecido. Pedi desculpas, mas ele me abraçou e disse, “Que nada! Estamos na final!” Botafoguense é assim: apaixonado pelo clube e solidário uns com os outros.


Desci as escadas gritando e avistei a Sandra balançando minha bandeira, cuja outra ponta eu peguei. A Sandra me explicou que todos os jogadores cobraram pênalti e que o Diego Cavalieri tinha isolado a cobrança dele e o Renan, o nosso goleiro, converteu a sua. A gente gritou muito. Um botafoguense desceu pra cumprimentar a Sandra e proferir o delicioso óbvio: “Estamos na final!” Tiramos fotos cheias de sorrisos catárticos e fomos embora junto com a galera. Que lindo é ver um mar alvinegro de gente feliz!


Pra completar a saga, o trem que pegamos pra Central ficou parado um tempão (o que não me incomodou porque um garoto tricolor me cedeu o assento), enquanto que um segundo trem (que não nos avisaram que chegaria) apareceu e saiu antes do nosso.


“Que saga, ein?”, disse a Sandra.


Que saga mesmo! E o detalhe é que eu acabei não vendo ao vivo nenhum gol do Botafogo.


Mas tudo bem! Foi pra isso que Deus inventou o vídeoteipe! Botafogo na final!


(Obrigada, anjo com espírito do Carlito Rocha!)


Originalmente publicado no Facebook em 19 de abril de 2015.


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