28/6/25: UM ANIVERSÁRIO PRA FICAR NA MEMÓRIA
- Vânia Penha-Lopes
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Os dias 27 e 28 de junho sempre foram importantes pra mim porque são o dia do aniversário da Mamãe, seguido do dia do meu. Além disso, todos os anos a Mamãe dizia que eu era o seu presente de aniversário que chegou às 5 horas da tarde do dia seguinte. Quando criança, tive festas de aniversário maravilhosamente temáticas; tendo nascido na véspera de São Pedro, o tema era sempre festa junina. Participávamos toda a família e os vizinhos, vestidos de “caipira”, pendurando bandeirinhas e nos deliciando com os quitutes típicos que a Mamãe cozinhava: pé-de-moleque, cocada branca, cocada preta, doce de batata doce com chocolate, doce de abacaxi com coco, doce de abóbora com coco, maria-mole, fora as empadinhas e os pastéis de camarão e, pros adultos, quentão. Os bolos que a Mamãe fazia eram obras de arte: lindos e deliciosos. A Mamãe era uma mulher talentosa que, além de assistente social, foi professora de culinária e ainda por cima tinha o dom da escrita, que eu herdei dela.
Quando fiquei adolescente, perdi o entusiasmo por comemorações pra mim, ao contrário da Mamãe, de modo que continuamos a celebrar os aniversários dela até 2023, seu último. Portanto, no ano passado e neste, não fiz questão de marcar a minha data, mas achei simpático reconhecer a data da Mamãe. Coincidentemente, a lendária cantora Dionne Warwick anunciou um show único no dia 27 de junho. Resolvi ir por vários motivos: cresci ouvindo sua voz, inspirada pelo Papai, que era muito fã dela; ela já está entrada em anos (84!); o show ia ser no Apollo, o famoso teatro no Harlem, onde eu nunca tinha ido. O show foi tudo de bom! Dionne Warwick não atinge mais aquelas notas agudíssimas, mas continua perfeitamente afinada. @somari123 concordou comigo.
Na manhã do dia 27, havia sido surpreendida pelos donos da Mia Esthetics com um bolo delicioso, recheado com bombom Sonho de Valsa, chapeuzinho de aniversário e o “Parabéns pra Você”. Então eu, que já tinha chorado muito com saudades da Mamãe, chorei de alegria e emoção com tremenda demonstração de carinho. Eu não tinha a menor ideia dos planos de @michael.alexandre.medico e @fabilusa2024 para aquela manhã; saí de lá com o espírito bem mais leve.
Se o dia do aniversário da Mamãe foi tão auspicioso, o meu foi totalmente o contrário. Acordei cedinho pra ir a Filadélfia assistir ao jogo do Botafogo com o Palmeiras pelas oitavas de final da Copa Mundial de Clubes. A princípio, eu não estava nem aí pra esse campeonato, mas, quando nos classificamos e o jogo foi marcado pro dia 28, convenci-me de que era um sinal que a vitória do Alvinegro seria meu presente de aniversário. Comprei um ingresso numa área do estádio que me dava uma visão privilegiada do campo. Perto de mim, estava um palmeirense, a quem pedi que tirasse fotos minhas. Infelizmente, o jogo foi uma decepção. O Botafogo jogou na retranca e levou um calor que exigiu defesas sensacionais do nosso goleiro, o John. Durante o intervalo, fui ao banheiro. A porta do banheiro ficou emperrada, de modo que eu não conseguia sair. Pra ajudar, uma mulher se ofereceu pra tentar abri-la. Ela deu um forte pontapé na porta, que parou justamente na minha testa. Zonza e inchada, pedi gelo a um segurança e um policial. Eles logo acionaram a emergência. Com os paramédicos, concordei em ir de cadeira de rodas (era a regra!) até a enfermaria pra ser examinada. Como meus sinais vitais estavam bem, a enfermeira (Carla, filha de portugueses) me liberou, não sem antes recomendar que eu fosse ao hospital caso tivesse sonolência mais tarde. O Herb, funcionário do estádio, escoltou-me de volta ao meu assento. Comentei: “Vim aqui comemorar meu aniversário e vou sair parecendo um unicórnio!” Sob o sol escaldante, fiquei até o fim do jogo, totalmente desgostosa. Pra completar a derrota, constatei que o dinheiro no bolso da calça não estava mais lá. As regras do estádio proíbem bolsas e mochilas comuns, de modo que tive que botar tudo nos bolsos do meu casaco e do meu jeans. Obviamente, não sei onde perdi o dinheiro; só espero que quem o achou estivesse precisando dele. Em suma, o dia do meu aniversário foi bem infeliz.
Mas nada como um dia atrás do outro. À tarde, a conta do supermercado deu US$31,00 exatos, o que é tão incomum. Quando fui pagar, vi que tinha exatamente aquela quantia na carteira. Seria um sinal de sorte? Depois, amigos vieram pra comer o bolo delicioso acompanhado de espumante. Da @barbaraleven, ganhei uma caneta Cross! “Para uma escritora; use-a com saúde”, ela acrescentou. Contei a ela como essa marca era o auge do chiquê quando eu era adolescente e como fiquei feliz com a surpresa. Ela também me deu uma moeda que ela achou na rua: uma moeda de 10 cruzeiros! Qual a probabilidade de se encontrar em Nova Iorque uma moeda brasileira fora de circulação há décadas? E mais, a moeda era de 1983, justamente o ano em que vim morar nos EUA! Mistérios... A tarde foi muito agradável. Fiquei chateada quando quebrei uma das taças que trouxe da República Tcheca em 2003, mas a @somari123 logo me mostrou como achar uma parecida na internet e a @barbaraleven arrematou: “Vânia, é só uma taça. Você ainda vai quebrar muitas”. Tive que rir.
Então, é isso. Este aniversário foi diferente de todos os outros da minha vida. Talvez o sinal seja que não adianta fazer muitos planos na vida, pois a vida tem o seu próprio roteiro.
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