Hoje, Primeiro de Maio, comemora-se o Dia do Trabalho em quase todo o mundo (exclusive nos EUA). Em anos "normais" no Brasil, um feriado que caísse numa sexta-feira seria motivo de grande alegria. Ah, as possibilidades que um feriadão trazem! O fim de semana prolongado levaria muita gente a acessar os sites de viagens nos seus celulares ou computadores em busca daquela saidinha. Outros almejariam o dolce far niente, em casa mesmo, pra recuperar as forças. Ainda outros tirariam o feriado pra cuidar daqueles afazeres domésticos que quase sempre negligenciam.
Infelizmente, este ano de 2020 não está sendo nada "normal". Durante esta pandemia, cujo fim não temos idéia de quando será, todo dia é feriado para alguns -- aqueles que estão confinados em casa, seja por contaminação ou para evitá-la; para esses, fica difícil distinguir um dia do outro e mesmice cansa. Para outros, porém, não existe mais feriado. Por exemplo, aqui na Cidade do Rio de Janeiro, este é o terceiro feriado em duas semanas: dia 21 de abril foi Tiradentes e, dois dias depois, São Jorge. Só que quem trabalha em atividades designadas essenciais (i.e., em hospitais, transportes públicos e alimentação) não pode se dar ao prazer (ou à chatice) de ficar de folga. Tenho visto fotos de profissionais da saúde com marcas das máscaras nos rostos, sinal de que não têm respaldo. Li sobre o grande número de motoristas de ônibus em Nova Iorque e Detroit que morreram, contaminados por passageiro(a)s; não deve ser diferente aqui no Brasil. Funcionária(o)s de farmácias e supermercados ficam à mercê de fregueses e freguesas que insistem em ignorar as regras de distância; uma balconista da farmácia aqui ao lado me disse que um homem entrou lá, tirou os fones de ouvido e soprou no rosto dela. Em outras palavras, não se vêem demonstrações de solidariedade a torto e a direito.
A pandemia afeta grande parte do mundo, mas não estamos no mesmo barco. O esforço físico de lidar com ela e o ônus psicológico que ela vem causando se distribuem diferencialmente entre nós. Nem todo mundo dispõe de água pra lavar as mãos constantemente e proteger-se do vírus. Álcool em gel é artigo de luxo para os que foram forçados a parar de trabalhar e, por conseguinte, de receber salário. Os que são obrigados a sair pro trabalho se arriscam, se desgastam, se cansam e, por vezes, até se matam. Pra eles, não há feriado do Dia do Trabalho; pra eles, há muita labuta.
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