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Writer's pictureVânia Penha-Lopes

DIA INTERNACIONAL DA MULHER



Se bem me lembro, o Dia Internacional da Mulher foi estabelecido nos anos 1970, uma das "conquistas" do novo movimento feminista que havia começado na década anterior.


Pus aspas nas "conquistas" porque, quase meio século depois, as mulheres ainda nem conseguimos ter direito ao próprio corpo: nos dois países em que vivo, aumentou a incidência de violência doméstica, com casos hediondos de grávidas mortas a tapas, socos, pontapés e marteladas pelos próprios pais dos filhos delas, de mulheres assassinadas, enfiadas em malas e largadas em terrenos baldios, de mulheres torturadas durante quatro, doze horas pelos namorados e até de um adolescente trucidado pelo ex-namorado da amiga a quem ele deu a mão pra não se perderem na muvuca no Carnaval. Hoje de manhã (logo hoje!), li sobre vários casos de noivas que foram agredidas pelos noivos no momento de comerem o bolo de casamento. Em um deles, na Ásia Central, o noivo deu um tapão tão forte na moça que ela caiu pra trás. Imaginem como deve ter doído! Que constrangimento! Que humilhação! Espero que ela tenha corrido pra anular o casamento com o misógino e aproveitado pra processá-lo por erro de pessoa, agressão física e moral e perdas e danos. Não nos esqueçamos também da agressão direta das sociedades onde o aborto é ilegal, mesmo em caso de estupro e de fetos absolutamente inviáveis, tais como os anencéfalos. Não quero ouvir argumentos religiosos; a não ser que seja uma teocracia, o estado é laico. Poderia mencionar também a desigualdade econômica da mulher que trabalha fora e como o baixo pagamento é ainda menor quanto menos branca a mulher for. A gente pode até tocar "I'm So Glad I'm A Woman" porque é uma música ótima do saudoso Barry White e executada com primor pelas cantoras da Love Unlimited Orchestra, até porque "quem canta seus males espanta" e também é preciso "dançar pra não dançar", mas não percamos de vista a contínua reivindicação dos nossos direitos humanos. Se quiserem, dêem-nos rosas (mas, se forem pra mim, evitem as vermelhas), mas só se forem acompanhadas de um respeito diuturno.

Publicado originalmente no Instagram em 8 de março de 2019.

Foto pela autora; Paris, França, 19 de setembro de 2019.

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